Em japonês, há um ditado que diz 急がば回れ (isogaba maware). Traduzido ao pé da letra, seria algo como “dê a volta quando tiver pressa”. Sua origem remonta a um poema composto no período Muromachi pelo poeta Sōchō. Sendo um poema antigo, escrito em japonês clássico, não é fácil encontrar muitas informações a respeito dele, mas felizmente temos a Anna do @komorebitranslations no Brasil para explicar as expressões japonesas e seus significados. Anna explica que, para Sōchō, atravessar o lago Biwa de barco é um meio rápido para se chegar a Quioto, mas arriscado por conta das rajadas de vento que sopram do monte Hiei. Por isso, o trajeto mais garantido, ainda que leve mais tempo, é contornar o lago e atravessar a ponte Karahashi. Sendo assim, isogaba maware. Se está com pressa, dê a volta, não corte caminho.
Por mais contraintuitivo que seja, o melhor a se fazer quando se está com pressa é desacelerar. Não me refiro a fazer tudo mais devagar, mas a uma habilidade de abrir espaço para uma tomada de decisão mais consciente.
No entanto, é difícil abrir esse espaço quando estamos diante das situações imediatas. Assim, essa é uma habilidade que precisamos treinar nos momentos em que temos tempo disponível. Se conseguirmos abrir espaço quando não há nenhuma urgência, é mais provável que a gente consiga fazer o mesmo quando tiver.
Atividades que fazemos apenas por fazer, e não porque temos uma meta ou um prazo a cumprir, são um bom meio para treinar essa abertura. Por exemplo, quando você se senta para ler, não existe um cronograma a cumprir, então há um senso de espaço. Mesmo que você estabeleça uma meta de leitura, você sabe que é um artifício que você mesma criou para engajar na leitura, para que você se comprometa com aquela atividade. Você permanece na leitura por tempo suficiente para que sua mente acelerada aterrisse e realmente aproveite o que aquela obra tem a te oferecer.
Gosto também de introduzir micro pausas no cotidiano. Momentos de realmente não fazer absolutamente nada. Esse parágrafo, por exemplo, surgiu após um momento desses.
A mente parece ter um certo medo de ser tragada pelo vazio, por isso busca sempre estar engajada em alguma coisa. Tomamos decisões precipitadas na vida porque tememos o espaço. Se escolhemos, porém, dar a volta, antes de simplesmente sair atravessando o lago apressadamente, temos a chance de perceber que esse espaço é recheado de possibilidades. Vamos encontrando caminhos seguros para atravessar seja lá qual for o lago que se apresenta diante de nós.
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Brincadeiras à parte, muito do formato que as edições tem hoje se estabeleceram graças ao retorno que já recebi de leitores, que me dá uma pista para qual direção seria interessante eu seguir.
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Por ora é isso, até a próxima!
Sim, eu gostei muito do texto! Engraçado que acabei de ler o texto da Vanessa Guedes e acho que conversa com o seu. Depois confere lá. Um abraço!
Adorei esse texto, Dalmo!