Quem acompanha minha newsletter há algum tempo talvez tenha reparado que ela foi mudando ao longo das edições. Criada sem muito planejamento, ao poucos ela vai tomando forma, ganhando uma cara própria. Como tudo na vida, ela seguirá mudando enquanto existir, mas algumas coisas vão se tornando mais bem estabelecidas.
As primeiras edições foram uma série de aleatoriedades, o que transparecia até mesmo no nome da newsletter: Pensamentos Avulsos, originalmente. Diga-se de passagem que a maior parte dos meus pensamentos são absolutamente desinteressantes, então eu dependia dos raros momentos de inspiração que surgiam para escrever. Se não surgissem, eu não escrevia.
Ano passado, tomei a decisão de escrever regularmente, mesmo que não estivesse inspirado e, nesse processo, descobri que sempre há o que escrever. Conversando com uma amiga um dia, na tentativa de explicar a minha newsletter, eu disse que era tipo um diário, só que mensal. Começamos a rir, porque ficou evidente a contradição entre as palavras, e ela riu ainda mais quando tentei argumentar que só porque se chama diário não significa que um diário precisa ser diário.
E nem é o fato de não ser diária que me leva a concluir que a newsletter não é um diário, afinal. Diário é um registro bastante pessoal, e eu tenho filtrado muito do que escrevo, para que aquilo que publico não seja sobre mim. Eu acabo colocando alguns elementos da minha vida pessoal apenas para que a escrita não fique muito abstrata. Libriano que sou, é muito fácil eu me perder em abstrações.
Umas semanas atrás, a Aline Valek compartilhou em seus stories essa entrevista com o consagrado diretor japonês, Akira Kurosawa, em que ele explica como é importante para um escritor desenvolver o hábito de escrever rotineiramente. Em uma comparação com a escalada, Kurosawa diz: você não olha direto para o topo da montanha, mas vai escalando, um passo de cada vez.
(O engraçado é que eu já estava escrevendo essa edição, pensando nessa questão de escrever regularmente, quando a Aline compartilhou esse vídeo. A vida tem umas confluências estranhas.)
O que percebi nesse processo de escrever continuamente é que, em um mês, dá para escrever um monte. E apagar um monte. Isso poupa você que me lê de muita coisa irrelevante.
Aos poucos, vou entendendo melhor em que direção, afinal, estou indo com a newsletter. Outro dia, tive uma pira em relação a teias de aranha: será que as aranhas sabem o que estão fazendo quando constroem suas teias? Fico imaginando que elas simplesmente vão tecendo os fios, talvez até se perguntem de tempos em tempos o que diabos eu estou fazendo, mas quando a teia começa a ganhar uma forma mais definida elas olham e pensam ah, era isso. Esse é o momento em que estou com a newsletter. O momento ah, era isso.

Na prática, a teia de aranha tem um propósito específico: pegar inseto. Como um bônus, ela acaba por produzir uma estrutura esteticamente admirável. A escrita me ajuda a organizar meus pensamentos e penso que, no fundo, esse seria o propósito fundamental da newsletter. O bônus, assim eu espero, é escrever algo que acabe por fazer sentido para outras pessoas também.
Ritual de renovação
Como quem troca de caderno para começar um novo ano letivo, decidi migrar para o Substack, uma plataforma que deixa o e-mail com um visual mais agradável e organizado. Se você já assinava pela Tinyletter, não se preocupe, seu e-mail já migrou para a nova lista.
Por aqui, temos também esse simpático botão azul, com o link para essa edição, que você pode compartilhar com outras pessoas!
E sempre acabo esquecendo de avisar: se por qualquer motivo, você não tem mais interesse em acompanhar a newsletter, basta clicar em unsubscribe lá embaixo. Vou ficar chateado? Vou ficar chateado. Mas eu supero.
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