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Chihiro e a solidão que nos une
Não a Chihiro que você está pensando (mas pode ser também)
Esse mês eu assisti Meu Nome É Chihiro, filme inspirado no mangá Chihiro-san, lançado esse ano na Netflix. Achei um filme bonito e, como me empolguei com a coisa de trazer indicações para a newsletter, pensei em escrever algo sobre ele.
Logo no início conhecemos Chihiro como uma mulher que começou a trabalhar em uma loja de obentô (em português, quentinhas, marmitas etc) logo após ter trabalhado como acompanhante, mas sua profissão tem um papel secundário no filme. O mais relevante são as relações que ela estabelece com pessoas as mais diversas possíveis, entre elas um senhor em situação de rua, uma estudante de ensino médio e um menino travesso. O que elas tem em comum entre si e com Chihiro é o seu aspecto solitário.
Falo em aspecto solitário porque, no fundo, ninguém está sozinho neste mundo, estamos todos interconectados de mil maneiras possíveis. Por outro lado, nossa mente é a única que nos acompanha 24/7 e, nesse sentido, estamos todos sozinhos.
“Não importa aonde você vá, a solidão pode não te largar”, diz Tae, uma senhora que trabalhava na loja de bentô a quem Chihiro se afeiçoa. Tae percebe que Chihiro nunca consegue ficar muito tempo em um lugar, uma vez que essa solidão começa a ficar mais evidente.
As personagens que se aproximam de Chihiro também tem essa vibe. Elas veem Chihiro sozinha e se aproximam, ainda que de uma forma meio desajeitada. O menino Makoto, ao tentar assustar Chihiro com uma cobra de brinquedo, só quer ser visto. A adolescente Okaji, que se vê perdendo interesse nos assuntos que a ligavam às amigas de escola, fica intrigada com a mulher adulta que brinca no parquinho de criança.
Companhias que aumentam ou diminuem a solidão
Escrevi a pouco que o fato da Chihiro trabalhar em uma loja de obentô é secundário, mas não é bem assim. A comida é um elemento importante no filme. A mãe de Okaji é uma chef de cozinha, mesmo assim, Okaji não sente prazer em comer em casa. Há uma cena em que sua família faz uma refeição em silêncio, com apenas um comentário solto do pai sobre um curso de cerâmica que ele encontrou para a filha. Diríamos que há um silêncio constrangedor nesse momento, mas o problema não está no silêncio. Tanto que, em outra cena, Chihiro leva um bentô para o morador de rua, que não pronuncia um a ao longo do filme (sequer ficamos sabendo seu nome) e, ainda assim, a cena é muito bonita. É como se a comida e a intenção por trás de seu oferecimento transmitisse diferentes energias.
O curioso é que o que realmente aproxima as personagens do filme é a solidão que cada uma carrega consigo. O paradoxo da solidão capaz de nos unir. E esse filme me tocou porque reverberou com essa mesma solidão dentro de mim. Escrevo esse texto para reverberar com a solidão dentro de você.
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Tenho interesse em saber o que outras pessoas acharam do filme. Se você assistiu, eu adoraria receber a sua impressão. Se não assistiu, o que achou da indicação? Não que eu pretenda, com o texto, te convencer a assistir. Apenas compartilhar a impressão que o filme deixou em mim.
(estou na verdade, construindo essa impressão no exato momento em que escrevo o texto. a impressão que eu tive no momento em que assisti ao filme me foge no presente.)
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