As vozes de Fever Ray
Esse mês comecei a ouvir Fever Ray, pseudônimo da cantora sueca Karin Dreijer. Eles se identificam pelos pronomes “they/their”, o que em português não tem uma tradução exata já que na nossa língua a distinção entre masculino e feminino é marcada tanto no singular quanto no plural. Escolhi adotar eles nesse texto considerando que também a nossa língua confere uma certa neutralidade ao masculino no plural.
Mais do que sua música, me capturou seu visual gender-fluid e também essa adoção incomum de pronomes. Foi esse estranhamento que me fez querer conhecer mais de Fever Ray. Partindo desse interesse, ouvi todo o Radical Romantics, seu álbum mais recente, e foi então que os pronomes passaram a fazer sentido para mim.
Posso estar sendo meio simplista em concluir que “ah, é por isso que eles se identificam por they”, mas a impressão que me deu foi de estar ouvindo vozes diferentes em cada música. Ora um tom mais masculino, ora mais feminino, sem falar nas diferentes vibes que cada voz passa de acordo com a temática. Em uma entrevista à office magazine, eles afirmam:
I think the voices are more assigned to different emotional spaces. It’s very intuitive. I try to find the right vocals to tell a specific story. And I have a sort of a very large range myself, and then I also use a lot of machine programs to stretch it even more. But I think it's really fun to play with the idea of authenticity. My voice can be anything from here to there. And all of that is me. And it's a lot of fun to play with that.
Eu fico meio intrigado por ter me interessado em Fever Ray. Por um lado, foi um percurso meio previsível: Trent Reznor e Atticus Ross participaram na produção da música “Even It Out”, e os órfãos da banda Nine Inch Nails como eu acabam se interessando por qualquer coisa que tenha participação da dupla. E acho que quem cuida das mídias sociais do Nine Inch Nails sabe disso: foi através da página da banda no Facebook que conheci o videoclipe de Even It Out. Assisti, mas não tive vontade de ver nem ouvi-los mais. Assisti o vídeo, falei ‘eita’, e segui com a vida.
Em outro momento, resolvi dar uma espiada no seu perfil no Instagram. Não tive vontade de seguir porque toda a sua produção visual me deixa consideravelmente desconfortável. Ainda assim, apertei o botão Seguir. Às vezes, aversão e atração andam de mãos dadas.

Acho que é a falta de familiaridade que desperta minha curiosidade. Por que uma pessoa se produz dessa forma? E como assim eles se identificam por they? Vou atrás de mais músicas. Mais informações. Descubro algo? Não. Apenas Fever Rey.
Ouça
Fever Ray - ‘Carbon Dioxide’ (Official Visualiser)
Fever Ray - ‘North’ (Official Visualiser)
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