Aquisições na 25ª Festa do Livro da USP
Esse mês teve a Festa do Livro da USP, uma ocasião muito aguardada e ao mesmo tempo temida por quem compra livros compulsivamente gosta de ler, porque sempre tem muita coisa boa por preços acessíveis, mas se você não estabelecer um limite, capaz de gastar muito mais do que imaginava. Alguns meses antes eu já estava montando uma lista de livros nos quais eu tinha interesse. No fim das contas, saí de lá com um total de seis títulos.
Olhando para eles, fiquei pensando na minha relação com livros em geral. Tem gente que acredita que o jeito certo de “consumir” um livro é pegar e ler de cabo a rabo, mas eu não acho que seja por aí. Para mim, a relação com um livro vai muito além da leitura. Antes mesmo de comprá-los, já criei um vínculo com cada um deles, seja porque vi alguém indicando, seja porque algum elemento me atraiu, nem que seja uma capa bonita ou um título bem pensado. Quando compro, mesmo que ele fique para sempre encostado na estante, não deixa de ser uma forma de se relacionar com o livro. Depois de lido (integralmente ou não), a relação com o livro segue na forma de uma certa impressão.
Pensando nisso, decidi escrever um pouco sobre cada uma dos livros comprados na USP, ainda que eu não tenha lido nenhum deles. Como se falasse de um crush antes mesmo de conhecê-lo de fato.
Você verá que os motivos para meu interesse em cada um são diversos, mas que grande parte envolve ter sido indicado por alguém. Então se você já leu algum deles, sua impressão também será muito bem-vinda por aqui!
Poeta chileno
Me interessei por esse livro a partir da indicação feita pela Gisele Eberspächer, que o colocou entre suas melhores leituras de 2022. Ela se dedica a falar um pouco mais sobre o Poeta Chileno nesse vídeo aqui.
Acho que é um tanto natural de quem escreve ter particular interesse em livros que falam sobre escrita ou, como é o caso de Poeta Chileno, livros que tenham escritores como personagens. A Gisele comenta que é também um livro com que leitores podem se identificar, porque Vicente, um dos principais personagens, lê uma pah de coisa, e é isso que o leva à poesia, para começo de conversa.
Escolhi Poeta Chileno também porque procuro, na medida do possível, priorizar a literatura produzida aqui para esses lados, se não no Brasil, pelo menos na América Latina. Aliás, vocês viram que um brasileiro ganhou o National Book Award lá nos Estados Unidos? Uma repercussão lá fora só é possível se antes a obra repercutir aqui dentro, então é sempre bom dar aquela moral para a literatura local.
Poeta Chileno saiu no Brasil pela Companhia das Letras, na tradução de Miguel Del Castillo. Um romance que fala não só de poesia (em um país em que a poesia tem um lugar de destaque), mas de relações familiares e vida cotidiana.
Sargento Getúlio
O professor Samuel Titan Jr mencionou esse livro em aula, quando cursei a disciplina de Introdução aos Estudos Literários II com ele, ainda em 2020. Nem lembro o contexto, nem porque ele recomendava, mas anotei o nome. Como eu não anoto muita coisa em aula, interpretei o fato de ter me deparado com essa anotação 3 anos depois como um sinal. Além disso, o Titan escolhia textos excelentes para trabalhar em aula, o que me deixa mais seguro de que foi uma indicação certeira.
Não é, porém, um livro que eu iria atrás por livre e espontânea vontade. João Ubaldo explora muito o uso de regionalismos e neologismos, o que me lembra Guimarães Rosa, um autor que acabo quase nunca lendo por saber que sua escrita exige uma leitura cuidadosa. O que me anima a ler Sargento Getúlio é que a trajetória do protagonista parece ser apresentada de modo muito comovente, ainda que ele esteja imerso em um contexto bruto e violento, o que reflete em sua própria personalidade. No mínimo, é um livro que certamente foge ao que estou acostumado a ler.
Atos humanos
Traduzido por Ji Yun Kim, Atos humanos foi lançado no Brasil pela Todavia. Baseado em um massacre real ocorrido em 1980, durante um período de extrema repressão política na Coreia do Sul, o livro mergulha nas repercussões de tal barbaridade. Como é o dia seguinte das pessoas que ficaram? É um livro que exige um preparo psicológico, mas que espero muito conseguir ler antes de morrer.
Han Kang ficou conhecida mundialmente por A vegetariana e, mais recentemente, escreveu O Livro Branco, que saiu também pela Todavia, na tradução de Natália T. M. Okabayashi. É uma boa opção para quem se interessa pela obra da autora, mas ainda não se sente preparado para A vegetariana ou Atos humanos. Através de várias imagens permeadas pela cor branca, no Livro Branco Han Kang aborda a vida e a morte de uma forma quase poética.
Mushishi - volume 1
Conheci Mushishi através do anime, que assisti quando ainda estava no catálogo da Netflix, em 2017. Cada episódio conta uma história envolvendo seres classificados como mushi, formas de vida primitivas que dependem inteiramente de outros seres para a sobrevivência, incluindo humanos. Mushi só são vistos em circunstâncias específicas, ou por pessoas dotadas com a habilidade de enxergá-los, como o protagonista Ginko.
Publicado no Japão entre 1999 e 2008, o mangá é de autoria de Yuki Urushibara. O volume 1 acabou de chegar ao Brasil pela editora NewPOP, que o levou para a Festa do Livro antes mesmo do lançamento.
O que me atrai nesse universo é a noção que ele transmite de interconexão entre os humanos e os seres vivos e não-vivos que o cercam. Eu passaria uma edição inteira exaltando Mushishi, aliás, tenho um texto sobre o anime de quando ainda escrevia no Medium. Está entre os textos que eu adoraria reescrever um dia, quem sabe não o faço depois de ler o mangá!
Os despossuídos
Me interessei por esse livro a partir da indicação da Sabrina Fernandes lá no Tese Onze. Saiu no Brasil pela Aleph, na tradução de Susana L. de Alexandria.
Os despossuídos é uma ficção científica que suscita reflexões sobre organização social, sistemas econômicos, entre outras questões que tocam a nossa própria sociedade. Ursula Le Guin aborda essas questões através do contraste entre dois planetas irmãos de um outro sistema solar, Urras e Anarres. A civilização existente em Anarres se formou após um levante anarquista ocorrido no planeta de Urras, onde impera o nosso velho conhecido capitalismo. Anarres se livre dos inúmeros problemas inerentes ao capitalismo, mas surgem contradições. Por um lado, os habitantes de Anarres conquistam maior liberdade e autonomia, por outro lado, são altamente desencorajados a ter qualquer intercâmbio com Urras, o que também acaba gerando dificuldades.
Doce amanhã
Traduzido por Jefferson José Teixeira, Doce amanhã acaba de sair pela Estação Liberdade. Banana Yoshimoto, pseudônimo peculiar de Mahoko Yoshimoto, é uma autora que tem se destacado entre os autores contemporâneos japoneses.
Sendo bem honesto, comprei o livro pela capa. Nem estava na minha lista, mas lendo agora a orelha me parece que foi uma boa escolha. Aí vai um trechinho que eu gostei:
Em uma narrativa de contornos quase oníricos, Banana Yoshimoto nos leva a refletir sobre a efemeridade da vida, a vislumbrar que vida e morte podem estar muito mais próximos do que imaginamos, e a nos questionar sobre o que realmente importa enquanto estamos presentes em corpo e alma neste mundo.
Menção honrosa: Como se fosse um monstro
Esse eu não achei na USP, mas estava na minha lista. Comecei a acompanhar a Fabiane Guimarães pela sua newsletter Tristezas de estimação, e desde então, tenho me interessado pela sua escrita. Como se fosse um monstro é o seu segundo romance, que reflete sobre maternidade a partir de um caso de barriga de aluguel, prática proibida no Brasil, suscitando reflexões sobre exploração de classes menos favorecidas, especialmente mulheres.
Para quem se interessa por escrita e/ou literatura em geral, a newsletter da Fabiane é um prato cheio. Recomendo demais!
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