Vim a este mundo no dia 21 de outubro de 1989. Além de caçula da família, fui um dos mais novos da turma ao longo de toda minha vida escolar, pelo fato de fazer aniversário no final do ano letivo. Dado que, durante a infância, alguns meses podem significar uma mudança significativa no desenvolvimento, era como se meu processo de amadurecimento tivesse um pequeno delay, comparado aos meus pares.
Hoje, isso já não faz muita diferença. Da mesma forma, fazer aniversário já não tem a relevância que teve até meus 20 e poucos anos. Um ano a mais já não simboliza uma transformação significativa por si só.
Não é que eu não me importe com meu aniversário. Gosto de receber felicitações e aproveitar a data para fazer um balanço da minha vida.
Minto. Não faço esse balanço porque gosto, mas porque sou lembrado de que meu tempo está passando, e ele acaba sendo quase inevitável.
Um voto
Meu signo no horóscopo chinês é serpente. Ainda que seja um animal facilmente associado à agressividade, pessoalmente, acho mais exato associá-lo ao medo.
Penso que a serpente simboliza a emoção predominante na minha personalidade, que é justamente o medo.
A serpente não quer ser notada. Ao longo da história evolutiva, até seu corpo adquiriu um formato ideal para se esconder. Com medo de sua própria vulnerabilidade, ela se esgueira por espaços estreitos ou por baixo da serrapilheira.
Serpentes planejam cuidadosamente seus movimentos. Eu planejo tanto que acabo não saindo do lugar.
O voto que faço no dia do meu aniversário é o de não viver escondido. Sair de baixo da serrapilheira. Reverter o processo evolutivo, criar braços e acenar: oi, estou aqui.
Por outro lado, acolher a serpente. Me esconder quando sentir que preciso me proteger, ou mesmo proteger os outros de mim. Afinal, o medo que a serpente sente também pode se converter em agressividade.
100 inscritos na newsletter
Semana passada, recebi a notificação de que a kotoba alcançou a marca de 100 inscritos no Substack.
Me agrada ver a newsletter crescendo de pouquinho em pouquinho, sem eu precisar fazer quase nada. Eu apenas sigo escrevendo, o resto vem por tabela. O material para divulgar a newsletter vai surgindo dos próprios textos, e vou conhecendo escritores e escritoras que ajudam na divulgação umas das outras.
Na imagem comemorativa gerada pelo Substack está escrito “you dit it”. Gosto de you porque serve para o plural também. Gostaria de dizer para todas(os) que me acompanham e ajudam a manter a energia da newsletter viva: you did it.
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Kotoba indica
O melhor nome já dado a uma música é Anniversary of an uninteresting event, do Deftones, de onde saiu o título desta edição da newsletter.
Han Kang ganhou o Nobel de Literatura deste ano e deu uma entrevista linda para um canal sueco (legendado em português no Insta da Todavia). Por coincidência, ela também fala em se esconder, mas por uma razão muito nobre, no caso, que é evitar os holofotes voltados para ela após ganhar o Nobel e focar na escrita do seu próximo romance.
Com o apoio da Inochi, organização fundada por Kazuaki Tanahashi e Mayumi Oda, a comunidade o lugar e a Aliança Reflorestar lançaram uma campanha para o plantio de 5000 mudas de árvores em sistema agroflorestal até o final de 2024. O projeto ocorre em parceria direta com a comunidade do Território Indígena Puyanawa. Entre nesse link para saber mais e apoiar o projeto. Um doador anônimo está dobrando o valor de cada contribuição: para cada real doado, ele doa mais um!
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Até a próxima!
Feliz aniversário!!! 🥳🎉🎉
Um detalhe legal das serpente na mitologia asiática, é a figura do Oroboros, uma serpente que engole a sua propria cauda representando o conceito de eternidade.
Será que você vai ser oji-san para sempre???? Kkkkkkkk